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Dois Quadros


Posicionados perpendicularmente entre si, dois quadros sem muito a dizer para quem vem de fora. Molduras de trinta por quarenta centímetros, distadas cerca de um metro fisicamente na minha parede, mas cerca três mil quilômetros na verdade. Juntas estão no meu coração. Muitas vezes os vejo se movendo e dizendo algo interessante para mim, como sempre. Como de verdade, sempre foi. Um dividido e unido coração ao mesmo tempo, marcado pelo que era, é e será daqui pra frente. As molduras são simples e o conteúdo é pragmático. Os tons do dia e da noite de cada um, respectivamente, se unem e formam uma imagem maluca na minha cabeça. Enxergo pessoas que não existem na paisagem que mais do que nunca me marcou pra sempre. Olhar e chorar, fácil assim. As lembranças maravilhosas me vem a tona, sem pudor jogam fora minha razão e me fazem pensar onde estou e o que estou fazendo. Poderia jurar que converso com elas. É então que um último súbito suspiro de racionalidade tenta vencer essa luta impossível e mais uma vez perde para os vultos das coisas que vivi naqueles dois lugares. É inútil. Choro mais uma vez. Uma luta entre Davi e Golias, uma fábula. Nunca será possível, um Davi racional contra um maravilhoso mundo de fantasias conectado perante minha sala de estar, como não sentir-se em uma encruzilhada? Quando olho no espaço vazio entre os dois, em meio a um foco inexistente, vejo os movimentos de ambos lutando para entrar no meu campo de visão e misturar minhas idéias como um descomunal Golias amassando o pobre Davi. Olhar, lembrar, pensar, chorar, viver. O que são capazes em vida esses dois quadros. Vejo vocês qualquer dia desses, Turim e São Petesburgo.

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