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Sonhei com Anne Marie


Essa noite me lembrei de cada promessa, cada gesto de amor, sonhei com uma vida simples e prometida pela boca que parecia ser a mais doce de todas, lábios quentes e de forte prazer, assim imaginava ao lembrar quando ainda tínhamos dez mil quilômetros de distância. Um cabelo claro como o sol que aparece tímido aos povos do norte, um olho verde mais escuro que o meu, mas ao contraste parecia tão lúcido quanto as palavras verdadeiras entoadas por sua boca quente, como ela chamava. Menti pra mim mesmo ao acreditar em tudo, mentimos um para o outro ao pensar que todo sonho era possível, mas era simples, e isso foi à base para a crença. Essa noite, ao sonhar com Anne Marie, pensei que tudo estava perdido e não é mais possível acreditar em ninguém, mas ao mesmo tempo não posso ser “egoísta” e crer que sou o único que pensa como penso. Anne Marie, um doce nome, uma linda sonoridade, um grande e estrondoso erro juvenil. Tudo era possível no mundo de Anne Marie, ela, eu, ela e eu, mas não era. Era tudo falso como sua boca, na verdade, fria. Não tinha o sorriso verdadeiro, a cara de surpresa, o espontâneo prazer de dar prazer. Tudo era calculado no mundo de Anne Marie, falso e distribuído e cada ponto singular, não tinha ponto sem nó. Não tinha nada. Não tinha amor, nem mesmo dor. Sinto pena de Anne Marie, sou completamente seguro que sua boca entoa ainda as mesmas mentiras, que seu olhar ainda direciona a falsidade e que seus olhos não tão verdes abrem-se como uma janela e dão visão a uma falsa e pequena alma. Daquelas bem tristes, tão tristes como seu choro ao ir embora, tão falso e inapropriado. Vivi 8 meses de Anne Marie e 8 anos de ilusão na minha mente. Triste como o outono em Heilbroon, sua cidade natal, cinza como todo inverno alemão, vazio de coração, Anne Marie é apenas um nome. Um belo nome, nada mais.

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