top of page

Trechos Escolhidos,

 

Dificilmente é possível ter uma idéia completa de um livro com apenas alguns trechos escolhidos, mas não só tentando fazer o possível, a intenção supostamente seria te envolver a história e te fazer entender que o mais simples para um de nós pode ser o mais incrível para alguém. E que independente da história, o que importa no fim das contas é como ela é contada. Verdades infiéis ou ficções sólidas, lugares tão longinquos ou ao seu lado, vão te fazer pensar cada vez mais a respeito de tudo, tudo sobre a vida. 

Capítulo 29,
 
Barcelona, Catalunia, 26/10/2013

[...] o ponto de partida foi a casa Batlló, não porque que era o lugar mais perto de onde estavamos, mas sim talvez por sua fachada intrigante e de estilo modernista nada convencional. Descobri que em Barcelona, ela é conhecida por “Casa dos Ossos”, devido ao formato dos balcões exteriores, que se assemelham a um crânio. Reformada duas vez por Gaudí entre os anos de 1875 e 1906, a pedidos de Don José Batlló Casanovas, cujo obviamente deu origem ao nome mais conhecido da casa, era realmente inquietante observá-la. Após algum tempo, era hora de continuar a entender Gaudí. Passamos a casa Milà, mais conhecida como “La Pedrera”, a pedreira em catalão. Como matematico, a melhor maneira de explicar a casa Milà era defini-la como: “O lugar onde não possui sequer uma linha reta”. Como amigos matematicos, nos três apreciamos essas curvas boquiabertos e de certa maneira sem tentar modelar algo que já tinha sido assim feito maravilhosamente por Gaudí. As duas obras em si tinham interiores magnificos, [...]

Capítulo 4,
 
Turim, Itália, 09/08/2013

[...] não era mais um olhar turístico, olhava tudo. O que era belo, o que era bruto. Olhava as pessoas, cada gesto, cada moviemento, não era uma visita que estava por fazer, eu iria morar ali. Lembro da cena de uma mãe ensinando sua filha a separar o lixo orgânico do seco e colocar na lixeira certa, lembro que após fazê-lo, a pequena menina olhou para sua mãe com uma expressão de felicidade e tenho certeza que aprendeu para sempre, sua mãe retribuiu com um sorriso e ela viu um ônibus azul parado, esperando o semáforo para partir. Olhou na janela e me viu sorrindo, também me retribui o sorriso, entendi que gestos simples trazem alegria, mas infelizmente nem todos compreendem isso. Me lembro que cheguei em torno de cinco horas da tarde em Turim, e quando desci na estação de Porta Susa, o odor de café era tão forte que logo entendi o amor do povo italiano por [...]

Capítulo 21,
 
Cusco, Peru, 10/08/2010

[...] do lado direito me sentei na poltrona 85-A que se situava, diga-se de passagem ainda bem, na janela. Era noite e a escuridão que tomaria o caminho até o sagrado lugar não deixaria apreciar a escondida paisagem, mas independentemente adorava a proximidade daquele pedaço de vidro. Os lugares eram dispostos dois em cada lado, sendo que as poltronas da frente eram viradas de maneira a impor que os passageiros encarassem uns aos outros. Sentada no banco da minha frente, uma mulher loira com olhos azuis e um tipo físico que aparentava ter 1,90 m de altura, também fechava e abria os olhos sem se importar com a aparência ridícula que todos nós temos ao dormir e acordar em locais públicos. Portava abaixo de seus pés uma mochila estilo "backpacker" que denunciava seu estilo de vida muitas vezes por mim invejado. Pensei em conversar com ela, mas hesitei pois não sabia o quanto ela estava cansada ou não e o que menos queria naquele momento era disturbar o descanso alheio. Pensei que talvez não tivesse a oportunidade de conversar com ela nunca mais, estava enganado. E se eu dissesse que mais tarde ela publicaria um livro sobre turismo cujo o capítulo "Los Incas" teria como capa a minha foto de perfil com as montanhas sagradas ao fundo? Provavelmente selado de improvável, mas o que não é, se tratando de Machu Picchu? [...]

Capítulo 3,
 
Porto Alegre, Brasil, 08/08/2013

[...] quando um avião decola de Porto Alegre ele parte da pista que parece uma linha horizontal, se olharmos um mapa orientado com o norte para cima, ele parte sempre para a direita, para o leste, mas o leste para mim significava casa, pois sempre que decolava de Porto Alegre no sentido leste todas as aeronaves sobrevoavam meu bairro situado a 4 quilometros a leste do aeroporto internacional Salgado Filho. Sempre fazia um exercício de olhar pela janela e reconhecer prédios chaves, pontos de referência, e assim o fazia até chegar ao meu bairro, minha rua, e por fim minha casa. Não me lembro de uma vez em que não a tenha encontrado. Naquele dia não quis olhar. Queria que minha última lembrança de casa fosse de meus pais abraçados a mim e a minha irmã. Queria aquela imagem na minha cabeça por muito tempo, queria aquela imagem na minha cabeça para sempre, e a tenho até hoje [...]

bottom of page