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Púlpito


Tinha mesmo um relógio ali na frente. Sempre achei que fosse mentira para moldarmos um discurso de menor tamanho. A verdade é que sempre sonhei chegar ali e não tinha muita ideia do que iria falar, mas com certeza tinha muito a dizer. O tempo seria o inimigo representado por um relógio digital virado bem de frente para minha face nervosa. Respirei fundo e comecei, sem ter treinado, sem ensaio, sem noção de como sairia tudo aquilo e arquitetado de maneira proposital. A improvisação com as palavras já começava a fazer parte de um vasto repertório que crescia em meio as minhas aparições públicas, que até então não eram muitas, é verdade. E assim, de caso pensado, despejei as palavras que o meu coração pediu. Muito provavelmente, dentre todos aqueles formandos de 2009, eu tenha sido o único que respeitou o tempo, entendendo hoje o porque da presença do fatídico relógio digital na regressiva. Isso não importa, não foi o tamanho do discurso, mas sim o peso dele. Os clichês não faltaram, confesso, mas passaram mais rápidos ainda. Estes vieram na forma de agradecimentos, a colegas, amigos, a instituição e a família. Essa última tem sempre um peso especial e não ficou apenas nos corriqueiros e previsíveis agradecimentos. Na vez de cada um de nós formandos, de frente para o púlpito, uma plateia enorme a espera das suas palavras. Sim é uma pressão. Um pressão maior ainda para sua família, que ao escutar seu nome, somente ela levanta-se destacando-se de todo o resto do salão de atos. Era enfim a minha vez, meu ato, e esse começou de maneira bem simples como o discurso de todos os meus colegas, mas de repente tudo mudou. Olhei firme para 3 pessoas na área mais próxima a nós e levantadas se sobressaindo das demais, fixei meus olhos nelas. Já no meio de minha tão normal improvisação, eu a tornei incrível. Foi então, que de maneira tranquila e eloquente, disse: “...o que mais importa pra mim é minha família, vocês mesmo que estão na minha frente agora. Que me deram todo apoio do mundo, mas em especial a uma pessoa, que me fez acreditar que tudo é possível, que não existe hora, idade e dificuldade. Eu queria agradecer a meu pai, pois exatos um ano atrás exercíamos papeis trocados e eu o admirava bem dali de onde ele está agora, se formando aos 52 anos por essa mesma universidade. Ele aqui nesse púlpito discursando e eu o tendo com um grande exemplo. Um exemplo de vida, que me mostrou que não existe hora pra estudar. Que me ensinou que podiam me roubar tudo na vida, menos o conhecimento. Sim pai, eu o tenho. Na verdade, pai, tu não é só um exemplo, tu és o meu exemplo”.

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